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Mosqitter é destaque no site GQ da Globo

 

Dengue não é preocupação em hotéis de luxo; entenda como tecnologia ucraniana livra o público A+ dos mosquitos

A Cidade Matarazzo, complexo de luxo lar do hotel Rosewood, é um dos points que investem em equipamento para resolverem um problema bem tropical.

 

Entre os predicados que fazem o hotel Rosewood São Paulo e seu compromisso com o luxo performático chamar atenção de curiosos - suíte com diária de 275 mil reais, violões autografados por Gilberto Gil e Caetano Veloso nos quartos, etc. - há um detalhe menos conhecido. Desde 2023, a equipe do hotel, localizado no bairro Bela Vista, emprega uma tecnologia ucraniana que 'imita' um animal vivo para livrar seus hóspedes do inconveniente de serem atacados por mosquitos e afastar os riscos à saúde ligados ao inseto - sem sacrificar a flora e até fauna que fazem parte do dia a dia da operação.

 O primeiro contato do gerente geral Pedro Moreira, 31, com a equipe do hotel de luxo ocorreu em 2023, antes mesmo que o empresário e o time da Marangoni, indústria com sede em Mogi Mirim, SP, preparassem a operação ucraniana para solo brasileiro e abrisse as vendas em março de 2024.

Felipe Rodrigues, chef do restaurante Le Jardin no Rosewood, foi quem contatou Pedro após aprender sobre um primeiro teste da máquina na estância Caiman, no sul do bioma, em 2023. Na época, Rodrigues estava atrás soluções que não fossem o fumacê, inseticida baseado em praletrina e imidacloprida que leva à morte do inseto, mas também impactaria a saúde das abelhas que vivem no apiário do próprio hotel, que produz mel usado na propriedade e ajuda a manter suas áreas verdes.

O Rosewood, que na época adquirira duas versões importadas da máquina (hoje ela também é fabricada no Brasil), substituindo o uso semanal do inseticida, já conta com um total de sete máquinas. Nos próximos dias, outras unidades devem ser instaladas pela Cidade Matarazzo, complexo onde ficam não só o hotel, como também o clube Soho House. "Geralmente quem busca a nossa solução são pessoas que já tentaram várias", diz Pedro, que é representante da Mosqitter no Brasil.

Cada máquina custa por volta de R$ 14 mil reais. Soma-se ao custo o preço de 300 reais mensais para a reabastecimento dos insumos necessários para ela funcionar.

 

O que é?

O equipamento de 1,30 m de altura simula certos elementos do funcionamento do corpo de um animal vivo que atraem os mosquitos: um conjunto de feromônios sintéticos (sem odor perceptível), calor similar ao de um mamífero e a emissão controlada de CO₂, que imita a respiração. Pouco a pouco, o mosquito vai caindo na arapuca e se aproximando.

"A última forma de atração é a sucção, que é o que captura e prende o inseto dentro da máquina", diz o executivo. "Ela acaba atraindo as fêmeas, porque o macho não pica. O que ela faz é criar um desbalanço natural e uma dificuldade para reprodução", conclui. O resultado, segundo Pedro, é a "migração natural" dos insetos. São 30 dias, aproximadamente um ciclo reprodutivo do animal, para que os efeitos do equipamento surjam.

Relatório publicado em novembro de 2022 aponta que, em testes dentro de laboratório, o aparelho conseguiu capturar ao menos 182 de 200 fêmeas do Aedes aegypti (transmissor da dengue) em ciclos diários de teste - o resultado não muda mesmo com uma pessoa na mesma sala. Em julho do ano seguinte, nova triagem, desta vez ao ar livre, reforçou que ela tem o mosquito como principal alvo: 84,6% dos insetos capturados foram mosquitos, e 15,4%, outras criaturas.

A solução entra como uma alternativa a armadilhas de luz negra, que buscam desorientar os insetos, e o fumacê que os elimina, mas nem sempre é prático no dia a dia de um hotel - e, como no caso do restaurante do Rosewood, levar a efeitos colaterais para outros insetos. Só não é uma solução de larga escala: com um raio de eficiência de 50 metros, o maquinário acaba ideal para áreas limitadas da cidade.

 

Altas exigências

O combate a doenças é, naturalmente, assunto comum na conversa com seus clientes - além do Rosewood, a firma trabalha com outros endereços de alto padrão como o Palácio Tangará, os clubes Paulistano e Pinheiros, além do condomínio Fazenda Boa Vista e de escolas da rede Maple Bear.

As arboviroses - aquelas doenças transmitidas por mosquitos - são frequentes assuntos de alerta tanto em áreas urbanas quanto rurais do Brasil. Apenas em 2025, casos de dengue, zika, chikungunya e febre oroupoche (os principais quadros relacionados aos insetos) já somaram mais de 104 mil casos confirmados no país, segundo dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde. Com exceção da zika, todas essas doenças tiveram uma alta de incidência entre 2023 e ano passado - o volume de casos de dengue, por exemplo, chegou a crescer em quase seis vezes, o maior patamar desde 2000.

Mas no trato com negócios de alto padrão, a conversa ganha também outra dimensão. "O tipo de público que frequenta um estabelecimento desses tem características muito marcantes", comenta. "São pessoas que investem em produtos de beleza, passam cremes e perfumes e não querem passar um repelente por cima disso. São pessoas que estão acostumadas a um nível de conforto com um determinado padrão: você estar ali sentado, consumindo uma refeição caríssima, bebendo um drink caríssimo, e sendo importunado por um pernilongo é uma coisa que pesa [pro negócio]. Significa menos tempo da pessoa no local, ela acaba consumindo menos", explica.

A trajetória do negócio também é uma vitrine para um ou outro perrengue chique. Em um dos clubes de alto padrão com que a empresa opera, o time de Pedro trabalhou com o drama de uma piscina aquecida coberta que virara um criadouro de pernilongos, apesar dos esforços da diretoria. "Quando visitei a primeira vez, eles tinham armadilhas de luz em todos os pilares da piscina, todas lotadas de pernilongos", lembra. "O diretor pegou uma das camas elásticas que eles usam para fazer hidroginástica, sacudiu e saiu uma névoa de dentro; eles estavam se reproduzindo ali, não sabiam como."

A Mosqitter atende 80 negócios, mas espera também poder atuar em iniciativas públicas. "A gente está iniciando uma parceria agora com a prefeitura de Mogi Guaçu, cidade vizinha de nossa fábrica. A gente vai fazer uma proteção durante o período de um mês em uma unidade básica de saúde e vão produzir um relatório", diz Pedro. É um trabalho embrião, mas que, caso tenha sucesso, pode ser aplicado em escolas, creches e hospitais.

Fonte: GQ Globo